Embora o brasileiro se sinta bem preparado para a aposentadoria, a transição da vida profissional para a inatividade tem obstáculos que dificultam a formação de um bom capital, como início tardio do planejamento, falta de rigor para poupar e projeção imprecisa das necessidades financeiras futuras. Especialistas afirmam que organização e disciplina são os caminhos para evitar esses problemas.
As dificuldades começam pela falta de perspectiva de futuro dos mais jovens. Trabalhadores com idade entre 16 e 24 anos são os que menos fazem contribuições para a aposentadoria, segundo o Indicador de Educação Financeira 2014, elaborado por Serasa e Ibope Inteligência. No total, 62% dos entrevistados desse grupo afirmam que não poupam para a velhice o índice regride conforme aumenta a idade, caindo a 42% entre os trabalhadores com 55 anos ou mais. A primeira armadilha da aposentadoria é começar a poupar muito tarde, alerta o consultor Rodrigo José Guerra Leone, da empresa Gestor Finanças Pessoais.
Entre as vantagens de iniciar cedo a programação do futuro estão o prazo mais amplo para o acúmulo de capital, inclusive via remuneração de juros, e as despesas diminutas típicas do início da carreira. Quem mora com os pais tem menos gastos e pode destinar mais dinheiro para esse fim, exemplifica Mailson Hykavei, sócio-diretor da consultoria e gestora de investimentos FinPlan.
A faixa dos 40 anos é apontada pelo consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor do livro Adeus, aposentadoria, como limite para o início de um planejamento para o pós-carreira. Quem começa a se preparar para a inatividade após esse período geralmente tem de concentrar esforços e, eventualmente, fazer sacrifícios para que cumpra os objetivos.
Outra barreira é projetar com precisão as necessidades financeiras futuras, já que elementos como renda, inflação e custo de vida tendem a se modificar ao longo do tempo. Cerbasi recomenda que, na dúvida, o trabalhador se planeje com a perspectiva de que terá custos crescentes, especialmente em saúde e alimentação, para que se condicione a poupar o máximo possível.
O acúmulo de dinheiro é, inclusive, mais um entrave, pois o poupador sofre a tent ação de utilizar o capital antes da hora, em função de necessidades imediatas. O dinheiro poupado para a aposentadoria não pode se confundir com o dinheiro que devemos ter com emergência de saúde ou desemprego, afirma Hykavei.
Empreender exige estudo, mas pode compensar
A ideia de se aposentar e parar completamente de trabalhar é alimentada por apenas 25% dos brasileiros, segundo a Pesquisa Aegon de Preparo para a Aposentadoria 2014. Os demais trabalhadores planejam ter um ofício remunerado auxiliar, temporário ou definitivo, para complementar o rendimento gerado pela previdência. Um dos caminhos escolhidos para isso é o empreendedorismo.
A abertura do negócio deve ser amadurecida ao longo da vida profissional, para que seja um passo natural, diz o consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor do livro Adeus, aposentadoria. Ele recomenda que o investimento se concentre em uma área de interesse do empreendedor, o que tende a tornar o negócio mais prazeroso.
Cerbasi afirma que alternativas como a abertura de um comércio eletrônico podem ser interessantes para quem deseja empreender, mas não conseguiu poupar ao longo da carreira. Pouco patrimônio, com uma ótima ideia, pode gerar excelentes resultados.
Mas empreitadas do gênero, como franquias, exigem cautela. Esse é um negócio binário: pode ou não dar certo. Se não der, você corre até o risco de se obrigar a voltar ao mercado de trabalho, alerta Mailson Hykavei, sócio-diretor da consultoria e gestora de investimentos FinPlan.
A abertura de um negócio pode ser mais arriscada do que um investimento na Bolsa, acrescenta o consultor Rodrigo José Guerra Leone, da empresa Gestor Finanças Pessoais. No mercado de ações, você monta uma carteira e aposta em várias empresas. Em um negócio próprio, é como se fossem as ações de uma empresa só.
Leone sugere que o empreendedor elabore um plano de negócios detalhado, com boa análise de mercado, e se prepare para enfrentar os desgastes de voltar à ativa, que incluem relações com fornecedores, empregados e clientes, além da concorrência.
Fonte: Gazeta do Povo